segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Volver

Eis que os sonhos não chegam
E os fantasmas explodem na TV
Para espantar o pouco sono que chegava cedo.

A Cinderella não sente muito medo
Ao perceber que contos de fada não são só o que se lê
E que as histórias não se anulam.

A tela explica que fantasmas existem quando neles acreditam.
Aparecem muito quando se coloca bastante a beber
E lá se foi o sono perdido...

Acorda e volta a dormir como um pedido,
Amanhece vendo o que pode e não pode entender
E percebe que é mais gostoso viver quando relaxam.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Pedra

Faltam livros para ler,
Palavras para digerir,
Informações para compartilhar...
Viver nessa Terra de Ninguém é complicado.

Quando a cabeça é de Pedra,
Difícil é saber o que dizer.
Preferi calar-me a viver no único estúdio conhecido.
Afinal, é engraçado como estúdios fazem
As mentiras parecerem bonitas.

E fugir do óbvio é tão insano
Quanto gostar da obviedade.

sábado, 11 de setembro de 2010

Morada das Palavras em Silêncio

            O dia começava tímido. O céu, de um azul puro e sol forte, não combinava com o frio que fazia. Logo se foi percebido que o dia seria construído de incansáveis e distintas leituras. Pena que não havia o silêncio necessário para tal missão...
            Há uns anos atrás, havia um pequeno apartamento onde podia-se encontrar um banheiro, uma varanda e um cômodo, onde estavam enfileirados em uma estante vários livros e, mais a frente, uma cadeira verde-musgo, grande, cheia de furos. E balançava, ainda que lhe faltasse uma perna de apoio. Este apartamento era o lugar sagrado dos sábados e domingos, especialmente sábados. E sábados frios e chuvosos. Na falta de alguma companhia humana, a comunicação com os livros era intensa. Podia-se terminar um, dois ou até mesmo três livros em um só dia. De forma alguma a solidão era sentida. Na verdade, talvez não houvesse companhia melhor naquela época. A introspecção era necessária, e deve ser necessária até hoje. Nunca deve deixar de ser, apesar da descoberta de outras necessidades, e desejos.
            A manhã mal nascia e o apartamento já se enchia da presença de uma só pessoa e seus livros que, uma vez escolhidos, eram retirados da estante e empilhados ao lado da grande cadeira. Por vezes, a cadeira era forrada com uma espécie de coberta para espantar o frio. A manhã tornava-se tarde, a tarde tornava-se noite... Quando a noite quase virava madrugada, os livros eram devolvidos à estante e a porta era trancada. O apartamento finalmente ficava vazio. Não por desgosto, mas por medo de alguns morcegos que adentravam-no para dormir. Um inquilino respeitava os horários do outro.
            O fim da noite de sábado (às vezes, de domingo) significavam o fim de um ciclo. Talvez fosse a melhor parte da semana. Quando não era preciso sorrir, fingir ou sair. Era o dia do deleite da leitura, da companhia sincera e da ausência da hipocrisia diária forçada.
            Os anos passaram, o apartamento deve ser usado de maneira diferente, e os morcegos devem continuar por lá quando ninguém vê. Porém, as memórias, a história, o crescimento compartilhados jamais serão esquecidos por aquelas paredes brancas e pelas estantes, hoje vazias.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Ignorância Opcional

Uma vez vi um filme de terror que consistia em forças malignas da Internet contagiando as pessoas. Era hilário! O único filme de terror que vi e ri o tempo todo. Porém, uns anos se passaram e acho que o filme era, na verdade, um presságio. Só podia ser.
            A Internet é um lugar virtual onde todos podem se expressar. Isso seria bom se não houvesse tanta babaquice no mundo. E, hoje em dia, a babaquice está espalhada e contagiando cada vez mais. As pessoas fazem blogs, fotologs, videologs e único log mesmo que falta é o matemático. Não que o log faça muita falta na minha vida ou de quem não curte matemática, mas significa que pelo menos algo foi aprendido no colégio. Enfim, o pior caso, na minha humilde opinião, é dos que se acham realmente engraçados e querem compartilhar sua graça. Ai, que vergonha alheia! É muita coragem... Bom, é muita falta de vergonha na cara. Mesmo.
            Hoje em dia, legal é ser colorido, fã instantâneo e “engraçadinho”. “Engraçadinho” pois a graça não existe. Não há um humor, nem óbvio nem nada. No colégio se aprende muita coisa, mas fora dele se aprende muito mais, tudo depende do interesse. É superlegal ter um blog e falar sobre nada, mas saber sobre política, sobre filosofia, história é out. Tudo isso me leva a concluir que ignorância existe por pura opção. Surge uma nova geração, que podia estar fazendo alguma diferença na história do país e isso simplesmente não acontece porque ser burro dá menos trabalho. Porque a Internet oferece tudo resumido. E mesmo o resumido é tão chato... Melhor não ser informado.
            E assim, as pessoas são manipuladas porque querem. Foi uma escolha. E ainda se acham muito espertos por usarem uma roupinha muito legal, por estarem em todas as festas da cidade. Botou um vídeo no YouTube falando merda, é ator. Me poupe. Aliás, talvez seja essa minha indignação. Não sou poupada de toda a idiotice que as pessoas constroem! E eu preciso poupa-las da minha chatice política! Preciso poupa-los de uma mudança que acredito que poderia acontecer se a ignorância fosse descartada ao invés de escolhida.
            Vamos fazer um acordo? Me retiro dessa geração e vocês me deixam em paz!

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Loteria

Algumas vezes na vida, ouvi que me amavam. Meninos me disseram isto. Ao primeiro, agredeci. Porém, após repetidos sorrisos baixos em respostas aos meus agradecimentos, resolvi deixar de lado o "obrigada" e proferir aquelas palavras que ele me dizia. Na verdade, me sentia realmente obrigada. Não acreditava que o amor poderia surgir tão rápido dentro de alguém.

Depois de alguns anos, voltei a ouvir estas palavras. Desta vez eu era mais crescida e não acreditei em nenhum dos sons emitidos pelas consoantes e vogais. Até porque não suportava a idéia de que alguém que amasse pudesse machucar. Bem, esse não merecia nem a compaixão da minha gratidão ou das minhas mentiras.

Quase desacreditei do amor. Havia desistido de tentar amar alguém nos anos seguintes. Eis que, no começo do processo de desistência, outro alguém me aparece falando em casar, em beijar minha boca para curar a ferida que criei. Mal ele sabia que faria exatamente isso. E eu, que ainda nem tinha visto seu rosto, sentia a desconfiança alternada de um estranho interesse. A minha confiança foi, enfim, conquistada e o interesse se tornou algo mais. Em um mês, me deparei com um homem, sua alma de menino e meu amor (que inicialmente me assustou tanto que me coloquei a tremer involuntariamente por não saber lidar com o desconhecido). Assim mesmo, instantaneamente. Ou não.

E já fazem cinco meses desde que entendi o que é amor por amar, e ser amada. E o aprendizado cresce a cada dia, como um broto bem cuidado até que nasçam bonitos frutos e flores. Finalmente pude compreender os versos "A esperança do amor não me deixa nunca mais" e "Meu amor tem um jeito manso que é só seu", pois venho compartilhando isso com ele, e com o mundo, diariamente.

O amor mesmo, o bonito, o que contagia cada ato e providência tomada, é o que se sente somente uma vez na vida. É o mesmo que só acontece se for sentido por duas pessoas com intensidade, afeto, respeito e carinho proporcionais. Eu amo, muito, e desejo que você ame também!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Labirintos


            Há dias em que a cabeça rodopia, rodopia e não pára. Falta o equilíbrio, como numa labirintite mental. E a mente é mesmo cheia de labirintos... A escolha por um caminho, sem que se perca na metade, deve ser tomada com cautela. Porém, ainda existem algumas pedras a ser desviadas em caminhos certos, apenas é preciso calma e atenção para não tropeçar.
            Nem sempre é tão fácil. Na verdade, manter uma fortaleza em tempos de guerra é difícil. E a pior guerra e a melhor fortaleza que podem existir são as que existem dentro de nós mesmos. É preciso muita sabedoria para controlar uma e fortificar a outra, e às vezes isso roda, como se estivesse dentro de um furacão. Um dia volta para o lugar, construindo tudo novo após a destruição, talvez, diária. E com a construção, a cabeça vai parando de rodopiar aos pouquinhos...
            Com a ajuda da música, das letras e do amor, a cura para os labirintos chegam.