sexta-feira, 30 de julho de 2010

Folha Rabiscada

Hoje quero ficar só
Sem ombro de amigo
Nem dó.

Adentrar esse bar
Onde ninguém possa me espiar.
Não pedirei para ficar ou ir embora.
Só parto se for posta para fora.

Hei de sentir esse vazio gelando
Feito aquele vento minuano
Sem tentar descobrir se é acerto ou engano.

Esconderei essas olheiras de não acordar
De quem possa me consolar
Sem ao menos saber o que passa.
E o que passa?

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Caleidoscópio

Gélido
Trêmulo
Rótulo.
Turvo
aquilo
que sinto.
Supero
medo
temporário.
Volto
rápido
ao mágico.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Carnaval de Nós


            Ah, esses olhos com brilho da cor do mar... Que sensação única ao vê-los! Que toque tão maravilhoso dessa pele tão clara, desse corpo tão lindo! Que visão delirante tenho ao navegar por essa harmonia em forma de gente, ao bagunçar esse cabelo escuro...
            Injusta é essa falta do seu corpo no meu! Passar por esse frio à espera do seu calor devia ser proibido! E, veja bem, no dia que o proibido se tornar liberdade, brincarei um carnaval por noite nesses seus caminhos... Ah, que divertidos serão os meus blocos!
            Sinto que esse dia não demora! Sinto que nossos dias estão cada vez mais próximos, e aí tudo será nós dois! Sagrado e profano! Somos o amor transbordado pela alegria, e pela saudade, e pelo mundo de bons momentos que passamos juntos. Saudade essa que, nesse dia tão próximo, será sentida pela distância que um quarto tem da cozinha.
            E nesse dia, serei a mulher mais foliona que o Rio de Janeiro e seu mundo já viram!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sur-Realismo

            Havia um grande mural na parede. Ele figurava um centro urbano, colinas muito geladas ao fundo e um relógio enorme e fluorescente a frente de tudo. O mural surreal estava situado numa sala muito cheia de vazio. No rádio tocava a primeira música do Los Hermanos enquanto, num dos cantos do ambiente, uma menina de esmalte lascado permanecia paralisada como se esperasse algo muito importante, ou talvez não esperasse por nada.
            A expressão de seu rosto era indecifrável: não sabia-se se chegava ou ia, se sorria ou sofria, se vivia ou morria. Muito curioso. Ninguém ousaria aferir qualquer sensação àquela criatura de cabelos longos.
            Ao fim, acreditava-se que a menina poderia ter saído do grande mural que compartilhava aquela sala com ela mesma. Aquela confusão toda e o excesso de informações traduzir-se-iam num semblante tão imprevisível... Ela borbulhava por dentro e naufragava por fora. E, como no relógio surreal, o tempo passou mas os ponteiros não pareceram mudar de posição. Alguns minutos passaram e pareceram horas, e quando as horas foram, pareciam poucos minutos somados. Surrealismo e realismo misturavam-se cada vez mais. Era a vida tomando forma de arte e a arte tomando vida.
            E quando foi que isso deixou de ser visto por nós?

sexta-feira, 16 de julho de 2010

17 de Maio

Veio para mim no fim do verão
um tal desconhecido simpático
com olhos tímidos, atrás das chamas
que me chamaram atenção.

Desconhecido estranho esse.
Dentro de mim, conheço-o desde sempre.
Deve ser coisa dos anjos.

E assim chegou o outono.
Trouxe-me esse anjo em sua ventania.
Levou-me a voar pelos bares da cidade
mesmo que o primeiro vôo tenha sido beijado pela falsa Estátua da Liberdade.

Ah, outono de novo amor!
Como posso agradecer a nova vida que me mostrou?
Darei outros cem mil outonos de felicidade,
daqui para a eternidade! 

Para o meu amor, Lê.

Conjugação

            Perigoso é isso que escolhi como vida. Guardar momentos com palavras, angústias com letras, alegria com poesia - isso é perigoso. O passado fica preso, pronto para briga com o presente. E, às vezes, tudo que se deve fazer é deixar o pretérito voar com o que ele já foi um dia.
            Há o medo de olhar para trás e ver tudo registrado sim. A barriga treme por dentro como num filme de terror bem bizarro, onde todos ficam acordados de noite e amanhecem dizendo que dormiram bem. A pena de jogar ao vento essas folhas repletas de história seguram cada vez mais aquilo que já devia ter ido há muito tempo... E aí o medo volta e fica tudo cada vez mais confuso. É, meu caro, desprender-se e desfazer-se daquilo que já foi seu não é tão fácil...
            E o que se há de fazer quando se gosta de olhar para o passado e sorrir? E o que fazer se o pretérito é totalmente imperfeito? Como fazer essa divisão? Não a fazendo. Registro vida, leio vida. Mas preferencialmente, apagaria essas memórias tão não minhas.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Pauvre Enfant

            Pobre menina aquela dos cabelos claros... Olhos tão tristes ela tem. Pareceu-me tão menina apesar de mais velha que eu. Seu jeito de tentar chamar atenção para si mesma, tudo só me traz a imagem de uma garotinha triste...
            Talvez ela queira ser dessa maneira. Possivelmente escolheu isso. Quem sabe nem se esforce para mudar? A tristeza traz a pena, e a pena, de algum modo, traz cuidados, preocupações... Talvez isso a faça sentir importante. Quase sinto-me culpada por ter jogado tanta raiva, injúrios e falta de importância sobre sua vida. Toda vida é importante afinal, não é? E quase porque também sou humana e estou longe de ter uma vida sem defeitos.
            Ainda bem que a pobre menininha vai para longe. Seria ruim sentir compaixão ou ira, e egoísmo também não é algo lá muito bom de se sentir. Porém, acredito que longe daqui a vida pode renovar-se. Pois as mudanças, sei muito bem, são tão difíceis! E quando se olha para dentro e se vê em desvantagem, as mudanças fatalmente ganham proporções mais pesadas e dolorosas. Fugir, às vezes, é ganhar espaço. Que a pobre menininha ganhe o seu e deixe, algum dia, de ser e sentir-se pobre.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Olhos Azuis

Eram olhos penetrantes. Azuis, intensos. Contrastando com a camisa de seu dono, de mesma cor, aqueles olhos azuis se guiavam na mesma direção que os meus.
       Havia um obstáculo. De vermelho intenso, com um rosto bonito, cabelos castanhos e a pele branca bronzeada, tipicamente carioca. Linda. Não tinha os mesmos olhos que os olhos azuis, a direção era diferente. Ela olhava para seu lado esquerdo, olhou para onde eu estava somente uma vez, por milésimos de segundo. Apesar de mais velha, sentia-se insegura de me olhar, do mesmo jeito que senti e fiz com os olhos azuis. Não entendi o porquê desta reação, eu não demonstrei nada que a levasse a isso.
       Eu tive um motivo. Os olhos azuis focavam nos meus. E assim continuou por muito tempo. Logo comecei meu jogo e fiquei olhando-o até que parasse de me olhar. Porém, como sempre, traí a mim mesma e não consegui manter o olhar. Meus olhos não conseguiam se focar nos olhos azuis como eles se focavam nos meus.
       De repente, os olhos azuis se perderam. Neste momento me senti segura o bastante para analisar toda a cor e a beleza daqueles olhos. Minhas pupilas provavelmente devem ter se ajustado e reajustado, como o zoom de uma câmera fotográfica faz. O foco aproxima-se, afasta-se e por fim aproxima-se novamente, mas, na verdade, chega cada vez mais perto do lugar esperado.
       Senti algo bom no começo. Talvez um pensamento futuro que não aconteceria, uma fantasia premeditada totalmente fracassada. Sorri. Esqueci da moça bonita de vermelho, esqueci das pessoas em volta, do lugar onde estávamos. Éramos só nós, eu e o dono dos olhos azuis. Sem uma palavra, ele levantou, veio até mim e sorriu sem mostrar os dentes, mas eu não consegui esconder os meus. E quando seus lábios iriam encostar nos meus, os olhos focaram-se nos meus novamente.
       Percebi rapidamente as pessoas em volta, a menina de vermelho e que o dono dos olhos azuis continuava sentado ali na minha frente. Senti algo estranho. Os olhos azuis continuavam lindos, penetrantes, mas agora me pareciam sujos, repugnantes.
       Olhei para trás. Vi uma televisão, distração incontrolável. Olhei para os olhos azuis novamente, em minha direção. Rapidamente meus olhos exalaram um ar de desprezo e fugiram dos olhos azuis. Meus olhos não faziam diferença alguma, não ofuscariam tamanha distração.
       Eram olhos previsíveis demais. Azuis, lindos e previsíveis. Tudo de muito previsível me repele, e esses olhos previsíveis só se juntaram a milhares de outros olhos previsíveis, tornou-se um número.
       Um brinde.

Escrito originalmente em 2009, publicado em 03 de agosto de 2009

http://mtv.uol.com.br/txt/blog/txtdermiatentando-focar-os-olhos-azuis

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Estranha Vergonha de Amar


            Não entendo por que esse medo de amar, de se mostrar amando. Meu amor é uma delícia! Quanto mais sorrio, mais meu sorriso é verdadeiramente visto. No entanto, percebo pelo mundo a grande imposição do contrário, da vergonha ver-se e mostrar-se apaixonado. Onde, pergunto a mim mesma, essas pessoas podem guardar seus amores?
            Talvez não chegue à conclusão alguma, porque simplesmente não vivo isso. Nem quero viver! Mas que acho bonito amar e ser amado, ah, eu acho!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A Última Noite

Não gosto de pesadelos. Tampouco gosto de sentir frio de noite. Gosto menos ainda de sentir as águas mornas que escorrem pelo meu rosto virarem gelo quando o vento bate. Não gosto da insônia, não gosto da agitação ruim que ela me provoca. Detesto quando não consigo jogar algumas palavras no papel para acabar com a agitação da insônia. Odeio o pânico que isso tudo, junto, me causa.
Ainda assim, por qual motivo isso acontece? Ou melhor, por que aconteceu?
E o único jeito do desespero dessa noite cessar foi mesmo ouvir aquela voz, aquela calmaria toda em forma de gente. E então a taquicardia foi abrandando aos poucos, o corpo, exausto, relaxando e a cabeça... já não sei quando parou de pensar.
 

terça-feira, 6 de julho de 2010

Ode à Superficialidade

santa puta da república
Os senhores são convosco.
Porém, só pelo tempo que os apetece.
A solidão é que mormente é convosco.

Santa causa para desespero
Ao atirar-se às três pernas de todo e qualquer homem.

santa puta dos mares
Se faz Geni mulher
Mantida em disfarce pelas palavras
Dignas de pena e raiva passageira minhas,
Já que sois tão importante
Quanto vossa escrita
E presença
Nos corações dos senhores que são convosco.

Para Aquelas do Desapego

E num mundo onde bigodes ganham diversão, hesitação e quintas intenções,
sou a fúria estampada no silêncio das canções.

domingo, 4 de julho de 2010

Se Você Fosse Embora

Se você fosse embora, meu amor
o gosto pela vida desapareceria
e eu voltaria somente à existência.

E se você se despedisse
não consigo imaginar o que faria,
e se faria.

Você me trouxe o amor
e é só isso que posso oferecer.
O mais sincero, o maior do mundo,
o que esperei a vida inteira encontrar.

Não vá embora, meu amor.
Desaprendi a suportar
(e a sua falta não é de se suportar).
Preciso te amar, me entregar aos teus olhos de mar
e levar meu bem para a minha vida.
Preciso de você pela vida inteira.

Se você fosse embora
o vazio
seria.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

24 de março de 2010


            As contradições que a vida proporciona são, no mínimo, engraçadas. Parecem mais com algum tipo de implicância. Daquelas mais infantis possíveis.
            Nunca devemos dizer nunca, apesar de acabar de faze-lo. Não devemos dizer o que podemos, mais tarde, nos arrepender e todo aquele blábláblá já dito antes por qualquer filósofo de boteco. Porém, quando se trata de mim, não adianta. Sempre me traio. Gosto de palavras e frases de impacto. Sou daquelas pessoas intensas. Afinal, como todo leonino que se preze (apesar de não acreditar muito em signos).
            Não vou mudar enfim. Apesar de também ser fã de mudanças, sou quase radical em alguns aspectos. E já que a vida gosta de ter esse tom contraditório em suas “ações”, vamos deixar que tudo vire surpresa. E contradição.

Para Lê e meu passado.

Meu Caro Narciso

Considero o narcisismo essencial na condição humana. Não o narcisismo exacerbado, é claro, mas o que seria de nós se não pudéssemos olhar para o espelho? É saudável cultuar a si mesmo. Quando escrevo, me cultuo. Porque gosto de escrever, sinto-me bem, sinto prazer em fazê-lo. Que mal há nisso?
Não posso fazer parte de uma sociedade hipócrita que cita um narcisismo pejorativo quando tira fotogrfias com roupas "de marca" num provador de loja para mostrar no Fotolog.
E quem foi mesmo Narciso?