terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Antes de Capturar

Desde o vento do Norte
As luzes das velas derreteram
Mais do que aquele filme meu

Me esqueci que poesia é sorte
E um sopro de alma
Que já se perdeu

E não há óculos escuros
Olhos nus
Ou lentes de grau
Que devolvam os borrados que vi

Sou o mais ínfimo dos todos
Nessa multidão retalhada
Que me consome entre escarros
E livros ditados pelos primeiros esquizofrênicos

Sou a ausência que estava guardada
A mais de dezessete chaves
Perdida nos detalhes cheios de dentes
Do semi-auto-retrato que libertei

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Do que eu gosto (Analógico)

Se me deres a chance de mostrar que
Levo jeito, em meus defeitos trarei alguns
Raios de cores

Só para
Lhe alumiar bem
Roer pequenos serrotes em teu corpo

Somo o novo ao inverso
Lá na analogia de lhe sentir em minhas mãos
Reinando um pouco para depois

Sumir dentro de você
Louca, biruta - bobagem
Raiar ao teu lado é toda a intenção.

domingo, 14 de outubro de 2012

Mulher

Sorria.
Seja magra.
Seja bonita.
Estude, mas não trabalhe.
Tenha sua independência.
Ceda.
Não se vista como putas.
Seja puta na cama.
Não se abale se seu homem admirar putas.
Seja forte
Mas deixe-se ser protegida.
Ouça.
E cuide-se um pouco mais.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Da Janela

Encurralada
Entre a efemeridade
De pular
Cair
Ou voltar

A inércia faz tudo parecer
Distante
Diante-dentro aqui

Não me importo

Me transformo a cada pseudoporrada
Num produto
Do seu meio.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Canto para os ébrios

a sobriedade machuca
em sua plena violência
full-gaz
num fardo
leve-
rdade
carregado dentro da mochila

quem se salva?

um gole
frio

domingo, 23 de setembro de 2012

O dia em que fui sombra
do que já fui
à sombra
de quem seria

sábado, 14 de julho de 2012

Sentimento São Paulo

Traços feios no rosto
gozo nervoso
num esboço mal-feito
de cor


da imagem bonita
esquecer de ser
ausentar-se em si


em cada conquista da sequência
uma dúvida:
Solitude é estar só
E solidão é dizer não?


Contagem regressiva para o fim
pintado belamente
na parede da sala de estar


e está pronto para estourar
seu espumante de reveillon
desejando puro Moet Chandon


é o que ganhas por dar,
tirar, retirar,
revirar a funda gaveta de seus planos.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sofia

Sofia,
Nome de minha filha,
que alguém a tenha,

Me vejo em ti.

E vice-versa.

Em teus cachos presos,
Em teus olhos tímidos
De olhar
De ser
Alguém a completar
A lacuna sempre vazia

Vívida
ferida.

Esqueça
Do que não deve lembrar
E não cresça
- Não pense em crescer -
Distante assim

Assim
Como desejei estar
Como sempre, sempre
Desejei ficar

E hoje caibo aqui.

Sofia, me deixe levar
A sombra que te integra
Que me entrego.
Assumo daqui.
E trate de ser
Uma criança feliz

Como todas devem ser.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Um Dia

A criança vomita
A chuva esfria
O rádio grita
A obra pára
O carro gira
A alma aflita.

Alegria.

domingo, 13 de maio de 2012

Poesia do Século XXI

Que bela poeta serei
Se o tempo soa
Seria?

Tempoison

Nas linhas que surgem no meu rosto
futuras rugas
Que beleza me trouxe o tempo?
Onde está o tal
Doce gosto?

e se já não sou bela
como o espelho me disse
disso eu sei -
dia-a-dia -

não há boca vermelha
que salve
esse amargor
de perder-me jovem.

que girem a ampulheta.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Intimação

Acordou ao meu lado
E assim como quem nada quer
Achegou-se aos beijos
Pedindo aquela massagem de sempre no pé.


Vazio
Vadio
No resto no dia que deixou
Ao ir embora.


Será que amanhã,
Como quem não quer nada,
Você me deixa chegar
De mansinho e lhe roubar um beijo?
É que essa é a cura
Desse meu peito
Seu...

Diálogo de Surdos

O que lhe digo hoje
Não é o que queria
Há três semanas atrás.


Não me deseje mal
Nem me sorria
Dessa sua maneira atual.
Tenha a mínima decência
De me fechar essa cara feia


Emburrada


E assuma


A bruma de escárnio
Que tua alma chama.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Poesia para Chuva

A magia da poesia me deixou
e hoje sou um resto de concreto
um vestígio da melancolia
daquilo que me escrevia.


As minhas mãos não gritam a plenos pulmões
nem meus dedos sacolejam a minha cabeça.


será que há beleza
nas lacunas da linha?

terça-feira, 3 de abril de 2012

Perigoso

Ouça bem
Você deve me ouvir
Eu não fiz parte daquela grande viagem
Não tenho novidades
Nem muita história pra contar
Mas tenho alguma coisa de bagagem
Nada muito pesado


Mando-lhe cartas descartadas
Dos erros de meus garranchos
Eu não sei ler no escuro
Quiçá escrever uns absurdos
Derretidos em linhas
Apagados pelo tempo


E quem vai me dizer
Que essa distância é coisa minha
Ou que devo ter esperança
Na insegurança 
De uma reta tortuosa
Que me leva aonde vou querer chegar?


Ouça bem
Acredita ao menos desta vez
Me espera naquele lugar de sempre
Aonde costumo aportar.

terça-feira, 27 de março de 2012

Sou livre
Sou mulher
Não sou estrangeiro de novela
Para traduzir tudo o que digo
Nem sou cachorro de índio
Para costurar novelo

quarta-feira, 14 de março de 2012

Sobre o Equilíbrio

Há de haver
Um ponto.
De partida ou chegada
Ou ambos
Ou ainda
N
A
D
A

terça-feira, 6 de março de 2012

Da Tua Falta

A sua ausência me chega aguda
Como faca na carne,
Como sal na ferida
Aberta,
Longe de cicatrizar.


Com essa falta grave
Os dias doem longos
Como a Guerra dos Cem Anos,
Como pênaltis na final de um Fla x Flu.


E eu ainda procuro conforto
Nos teus braços,
Beijando o travesseiro
À espera do calor só seu.


A ausência me chega grave
E os dias doem na carne.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O Dia Em Que O Diabo Riu

O diabo riu
bem ali, na minha frente
e sua sobrancelha arqueou
assando neste bafo quente
minha pele
que só desejava um pouquinho de vento.


que desalento!

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A Vida Em Suas Manhãs

No toque, já te sinto chegar.
Ao escorregar as mãos pelos meus cabelos,
Segurá-los,
Percebe-lo ao meu pescoço, ao respirar.


Nas tuas mãos eu sou.
Mais que qualquer estado de estar.
Em ti, só meu ser se conjuga
Liga
Cria
Chega.


E então chega teu beijo
Que me leva a todas as estações
Neve, chuva, verão...
E me deixo cair em teus braços,
Me entrego ao suave contato de tua barba
Em minha pele fervilhando teu coração.


Eis que corpo, alma
E tudo aquilo mais que faz viva
Encontra o teu caminho
Na forma mais crua
Pura
De lhe ter amor
E de lhe perceber.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

10:53

Dez minutos e cinquenta e três.
O tempo do dia que realmente aproveitei.


De vinte e quatro,
Nem uma hora inteira levei.


Não deu tempo de ir à praia,
Roubar-lhe um beijo,
Guardar um segredo
Ou espalhar cultura.


Mas consegui ouvir tua voz,
Sentir teu sorriso,
Perder o juízo


Tudo em pouco menos
De onze minutos.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Carne Vale

Acabou o carnaval.


Restou uma ressaca lenta
Da depressão do fim,
Dessa Avenida reta.


Nem sei mais se os olhos fecham
Ou pesam
Depois que a fantasia
Volta a ser guardada.


Depois do limão com sal
Acabou o carnaval.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Da Chuva Contida

O céu se encolheu
Amontoou uns algodões

Sujos
Poluídos

E parece que só eu

Me enfeiticei por aquilo.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Arritmia

Deve haver
Alguma identidade fissurada
Entre a tinta de caneta dos meus livros
E o lápis das minhas poesias rabiscadas.


Deve haver
Um eco mudo
Dessas palavras
Em cada som
Que não escuto.


Deve haver,
Ainda que de longe,
Uma explicação
Para toda esta difusão
Confusa de minha mente,
Corpo e reação.


Mas não hoje.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Dias-Sim

Desejei adormecer nos seus braços
Escondidinha em tuas asas.
De fora, só os meus olhos.


Imaginei te agarrar
À luz que entra no quarto
Para nunca-nunca mais soltar!


Nem você, nem ninguém da multidão
Nem ninguém que sabe rezar
Pode sonhar
As preces que inventei para acelerar esses dias-não.


E enquanto não dá,
Aperto o coração
Em beijos grudados na tela
Numa disparada sem razão.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Subordinação

O dicionário teima em apresentar
As palavras em esfera exata,
Como se a gramática fosse
Matemática.


Se me dá suas mãos,
Justaposto está;
E se me come,
Aglutina-me(-se).


Por que diabos composição necessita de nome?


Não se descreve o que sinto
Em termos criados protocolados carimbados.


Apenas sinto.
E escrevo.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Galinheiro

O galo cantou
E eu nem ao menos tinha dormido.
Talvez não sejam as horas
O único motivo dessas olheiras.

Será esse sono atrasado
Tempo perdido ou furtado?

A essa altura,
Não sei se me desejo boa noite
Ou bom dia.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Jogo de Espelhos

Me vejo no vidro espelhado
E não reconheço esta fera.
Quem me espera
Do outro lado de mim mesma?

sábado, 7 de janeiro de 2012

Sétimo Andar

Quero estar à mesa
Enquanto você prepara o jantar
E me canta aquelas canções
Como só você sabe me cantar.


Quero me aconchegar no seu peito
Ao final de um dia frio
E não perder a hora da novela
Só porque você gosta dela.


Ouvir você reclamar
Porque lavo a louça ou pois tudo ficou uma bagunça
Que eu devo arrumar
Antes mesmo de ir para a cama.


Falar do meu amor por você
E te ver sorrindo antes de poder responder
Que a sua vida se conjuga à minha
E não há outro jeito de ser.

Casa

Acordei hoje ao som de tua voz
E quis voltar a dormir,
Para encontrar em sonho
A maneira que apenas nós
Sabemos sorrir


Quando nossa dança chama,
Quando a cama canta,
Quando a tua boca beija a minha
E tudo fica em paz.


E tudo teu que veio comigo
Foi o teu cheiro
E só o meu ser inteiro.