sábado, 22 de outubro de 2011

Notas Lizas (Soneto Russo)

Há anjos e demônios
E eu conheço bem os meus.
E os desconheço todos.


Na fumaça que trago,
Livro o ar que me deixa tonta
E danço ao silêncio de minha espera.


O silêncio brilha, grita,
Fita-me em você.
Que, aliás, pode ser qualquer eu
Aprisionado naquilo que penso.


Existe beleza nisso,
Nesse equilíbrio em desatino.
Sou exatamente o distinto
Natural de cada ser humano.

Mãos Dadas

É possível o amor.
Nos olhos de um no outro
É terno o afeto,
Como se houvesse passado um ano.


Magno ele,
Ordena em seu muro a queda
Para a chegada dela.


E ela se faz Capitu criança:
Finge-se difícil e seduz em dança
E inquietude quando nada se espera.


Nas desavenças,
Cada um tem mais razão a não ceder.
Mas o tempo que os sinos da varanda levam para bater
É suficiente para que já se lembre às gargalhadas...


O imperfeito romance romântico
Idealizado por qualquer autor do Império
Assisto há vinte anos
De camarote, lenço e documento.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Ano do Toelho

Com amor, para Vargas

Há quanto tempo não escuto
Aquelas suas piadas de mau gosto...

Como eu queria lhe apresentar o Velho Safado!
Garanto que desejaria ser ele em algum momento.
Com certeza, seria.

Mas imagino que já o tenha encontrado.
Sabia que quase fui eu que lhe encontrei?
Foi há pouco, e por pouco, meu amigo.
Confesso, porém, que lhe ver não seria ruim.

Sinto falta da surpresa nas suas visitas
E das nossas longas caminhadas, biritas, risadas...
Em minha memória,
Repito o disco com cada história
Que alegrava o meu caminho e de quem passava.

Gostaria muito de ouvir as novas,
E sei que falaria sem parar
Com pausas apenas para aquelas nossas gargalhadas.

Um dia a mais...
Mas o senhor não quis esperar nem um tico,
Que é pra eu sentir a ausência
Daquele último abraço apertado não dado.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

De Varinha

 Aos futuros historiadores de hoje

Chamavam-lhe mestre
Aquele velho francês
Que enrugava ainda mais
Suas severas e profundas linhas de expressão
Para falar o bom e velho português.

Em seu sotaque passarinho,
Todos calavam seus olhos,
Já que ele tratava de arregalar os próprios
Por vir da terra da grande revolução.

O mago lançou-nos aquela mágica varinha
Mas ela jamais iluminou
Ou encantou qualquer cidadão dali.

Seria o velho um sábio
Ou um deluxe babão?

Maria Dança

Maria tinha aquele sorriso
Como quem chamava e não se importava
À ruína do outro.

Tinha uns olhos assim,
Um tanto fechados,
Para que não enxergasse, em nada, um fim.

Ah, Maria quando dançava!
Jogava aqueles cabelos desgrenhados ao vento,
Cuidando que não tocasse o chão
A barra da saia.

E era assim mesmo,
Requebrando-se com jeito de querer,
Que obtinha todos
Os olhares de quem quer ver,

Ter,
Reter
E satisfazer em si
O desejo da dança de Maria
Na carne própria.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Oásis

Quis te fotografar.
Uma imagem tua
Só minha.

Talvez procurasse material
Para beijar, ou guardar.
Mas não sou dessas que junta fotos
Ao fundo de uma gaveta.

Quero te lembrar,
Com o coração apertado
Mesmo
Que é para te entregar
A mim
Mesma
Em cada extremidade, laço,
Canto e verso.

É que para haver oásis
O deserto deseja sua porção de água.
E eu, longe de tua ilha,
Desejo que o teu mar
Deságue em mim.

Ou apenas apareça,
Assim como quem não quer nada,
E me beba toda.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A Cor Dá

O dia acordou sorrindo:

O pão que eu como está barato,
O livro que leio é raro,
A sorte me surgiu de um negro gato.

O sinal estava aberto quando atravessei,
Ri da fila do banco em que esperei,
O louco andava só e sentia-se rei.

O dia acordou sorrindo,
E não me importo se tantos ainda dormem.
Você está aqui comigo

Harmonizando sorrisos,
Rindo com os olhos
E fazendo dos meus braços
Os mais saudosos

E macios,
Prontos para a sua volta.

domingo, 2 de outubro de 2011

Doce Caminho Até Você

Beijos sabor ilimitado
No céu de minhas estrelas.
Sorte minha trazê-los para dentro do peito,
Iluminando tudo que sinto.

Sorriso meu,
Que aumenta a cada passo
Da tua chegada.
Minha feliz jornada
Pelos seus caminhos.

E não há verso que leve
Mais poesia que estar em seus braços.
Fecho meus olhos e me sento viva.


Acordo ao ouvir seu
"Vem cá, minha vida".
Distraída,
Sou inteira sua.