domingo, 25 de dezembro de 2011

Resumé

Escute:

Não sou grande artista.
Minha cultura não é extensa,
Ainda que caminhe a passos curtos.

Sim, frustro-me.

Reconheço a genialidade,
E ela não está em mim.
E não me seria natural se a torcesse.
Mentiria. Deslavadamente.

Vomito palavras.
Essa é a minha arte imunda,
Minha maldição egoísta,
Narcísica,
Meu grito gemido para que não seja esquecida.

Patética negação
E aceitação
Da própria existência.

Indiferença

Onde está o silêncio que preciso?
Onde foi parar?
Há necessidade de sorrir assustadoramente 
Por todo o tempo?

Não sou capaz de tal felicidade
Inventada e projetada
Como pré-requisito de vida.

Esse defeito teimoso de minha existência
Afeta, cresce e enlouquece apenas dentro de mim.
Somente eu sei quem sou
E ainda assim, sei de nada.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Nossa Dança (Pedido de Casamento)

O amor é um jazz
Pingado no suor de nossos corpos,
É acorde levado nos ouvidos.

É dança em vermelho,
Suingada na mesma sintonia
Das mordidas no pescoço.

É alegria nos olhos de brasa,
Calmaria em seu peito
De escola de samba.

O amor é folia
Que sorri de graça
E me oferece sua mão.

Me concede esta dança?

Para o anjo que me ofereceu sua dança

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Poetizar

A poesia não morrerá
Ou viverá
Por e para seus caprichos.

A pretensão da compreensão
Inútil, fácil e falsa
Cansam estas letras.
E lápis.

Não tente usar as palavras,
Nem sequer tente adivinhar
Seus caminhos e sentidos.

A poesia não está pronta.
Do poeta, é crua.
Da poetisa, nada.

sábado, 10 de dezembro de 2011

O Tédio das Horas

As horas bebem em bares
E eu me vejo do lado de dentro
Esperando as malditas passarem.

Não sinto sono.
Não sinto frio.

Queria um cigarro.

Balançar num trago
Os ponteiros e números
Esfumaçados do relógio.

Logo viria o enjôo,
E pateticamente me perguntaria
Qual seria o seu sentido.

O tempo passando.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Às Moscas

Foi coisa rápida que pareceu longa
ou coisa assim.
Foram uns olhos tão fundos, intensos,
atentos
que o tempo não sabe quantas voltas
deu.
Talvez fosse hipnose daquelas vozes
ou do beijo
que fez o mundo inteiro parar
ou sumir
para que eles pudessem passar.
Foi algo que ninguém explica,
uma sintonia,
uma sinfonia silenciada.
E no começo-fim do dia,
dormiu às moscas.

domingo, 27 de novembro de 2011

Sobre o Abraço

Veja só como são as coisas:
Você me falava da vida
E a única ação que eu tinha
Me saía nos olhos.

Era algum tipo de colapso
Que paralizava na cama
Minha vontade de me largar
Para te dar meu longo abraço.

Veja só como tudo é:
Te sinto com um atraso
E me falta até quando
Você ri enquanto desdenha de meu pé.

Me vejo entre tudo e nada,
E me arrependo de ter lhe abraçado
Quando havia aquele gordo obstáculo.


Me confundo com o tempo,
Que mal sabe se cai ou firma,
Todo este desconforto
Porque deixei de lhe dar o abraço.


Devo mesmo ter esquecido
Alguma parte de mim
Ao seu lado.

sábado, 26 de novembro de 2011

Durma Bem

Durma, menino bonito,
Aqui no meu peito.
Minha festa é acarinhar
Teu cabelo negro.

Daqui de mim,
Eu te protejo.
Não há gosto melhor
Que o teu beijo...

Mas não vou lhe acordar,
Quero o teu corpo calmo no meu.
Sua pele fervilha
Quando cabe aqui no meu colo.

Eu espero amanhecer
Para o verde dos teus olhos
Trazerem luz para o dia,
Cravo do dia!

Aquário

Sinta a minha calma.
Nem parece que fui
Um ontem de agonia.

Sinta a minha alegria.
Ela escorre em sinfonia
Nas minhas esganiçadas
Fontes de risada.

Não tenha medo de nada,
Pois vou segurar sua mão
Para você não cair.

E se cair,
Não me ausento um segundo
Enquanto não lhe fizer subir.
E, se possível,
Ainda roubo um sorriso.

Sinta meu colo.
O farei todo seu,
E o mais confortável.

Sou.
Sou inteira.
Do estar, sou apenas ligeira.

Dos Defeitos do Leão II

Constrói
Desconstrói
Destrói
Dói.

Aí sim reconstrói.

Dos Defeitos do Leão

Entisteço-me e desespero
Com a fragilidade de uma pétala de flor.

Não é por mal
Nem de propósito,
É que eu sinto.

Sinto demais.
É o tal exagero do meu signo
Que nem mesmo acredito.

Penso demais.
Minha cabeça é um mar revolto
Com medo das minhas próprias ondas.

Eu me escondo em minha sombra
Pois me assusto com o meu drama.

Cobro demais.
Sou um coletor de impostos meus
Que não posso pagar.

Massagem Antes de Partir

Meu amor,
Você me olhou de uma maneira
Tão intensa e verdadeira

E me tocou
O rosto com uns dedos leves
Com afeto e com confetes.

Meu amor,
Nem você sabe que meu coração parou
De tão disparado.

Nem você sabe que o seu beijo
Tinha uma paixão
De quem ama calado.

Era o meu amor
Que estava ali.
É a mais certa das incertezas.

E se for, ficar,
Ou nunca mais voltar,
Esse é o meu amor.

Para o único anjo desta flor

O Pulo do Gato

Descobri que teu Kandinsky em mim
Era enrolado
Como tua poesia em papel de bala
Que eu materializei.

Teus olhos de luz
Reluziram os meus.

Eram sua palavras chegando
Que escorregaram no meu olhar.
Era a tua fumaça
Que espantava o gringo.
Era o teu sorriso
Que pedia beijo.

E ainda nos teus olhos
Percebi a grandeza
De uma alma inteira.

Era uma noite quente na Lapa de quinta-feira.

Para meu poeta e amor, Leleco

domingo, 20 de novembro de 2011

Vende-se

Vendo uma consciência.
Dôo até.
Não está intacta.
Na verdade,
Encontra-se de maneira bem bagunçada.
Há de se achar modo de reparo
Porque ninguém gosta de dor.
Há, também, bastante alegria,
Mas, no momento, está em falta.
Compreende-se nela
Um quê de Dostoiévski, Bukowski,
E a esperança de Alice e Leminski.

Caso haja interesse,
Entrar em contato.

Velho Moço dos Amendoins

Janaína na garoa.
Um encanto de menina.
Velho moço e seus amendoins
Fazendo piada da vida
Já que não pode dar fim na maldita.
E nem quer dar!

Janaína não chamava atenção de ninguém.
Não dançava, não comia,
Mas sabia jogar os cabelos
Assim como tinha vintém.

O velho moço dos amendoins observava a cena:
Os pequenos gracejos aos breves sorrisos aos beijos.
Janaína era só uma menina que queria o novo.
Mas o novo deixa de ser novo.

E o velho moço dos amendoins
Via a fita repetida
Do começo ao fim de seus dias.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Maria Hilda

A roupa de cama havia rasgado.
Não foi de propósito,
Tampouco lamentara o ocorrido.

Depois do fracasso de sua overdose de comprimidos,
Maria Hilda resolveu faxinar o quarto
Às quatro da matina.

Para começo de papo,
Maria Hilda desligou o despertador.
"Se a temporada de insônia chegara,
Não precisarei de aviso para acordar".

Após xingar mentalmente
Àquela cartela de calmante
"De farinha", Maria Hilda iniciou
Pela gaveta das calcinhas.
Organizou-as por cor, sensual e sutien.
Descobriu que precisava de uma gaveta dos sutiens,
Mas achou trabalho demais para uma madrugada.
Deixou pra amanhã.

O alvo seguinte foi a sapateira
Que estava uma bagunça só,
"Umas combinações sem eira nem beira".


Pausou,
Suspirou,
Chorou um pouco
E prosseguiu.


Maria resolvera por o armário em dia.
Vestidos à direita, blusas-que-não-podem-amassar à esquerda.
E o que podia amassar
Iria pra dentro da gaveta mesmo
Que ninguém via.


Por fim, Maria decidira
Por seus papéis na mesa.
Arrumou-os simetricamente ao computador.
Os fones de ouvido, jogou ao lado
Daquele seu canetário de time.


Satisfeita, recolheu-se à cama
E deitou-se no escuro.
Percebeu, novamente, que sua única companhia
Era o brilho acesso de seu cigarro.


Chegara a temporada de insônia.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Coração de Pimenta

Foi a primeira vez que vinho
Ardeu ao descer a garganta.
Como num cheiro costurado
Ao travesseiro, sinto a saudade queimar

Todo o meu corpo,
E lamber toda a minha sanidade
Com suas agulhas de ausência.

E quem disse que é calma a loucura?
Meu coração de pimenta
Explode, grita dentro de alguma caixa
A espera daquela chegada

Em silêncio.

domingo, 13 de novembro de 2011

São Paulo, Dia 3

Algo falta-me

Na distância

Nessa insônia de você


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Telas de Aranhas

Não demonstra-se criatividade
Criando paginazinhas na internet;
Nem vejo felicidade
Em lingerie de cento e quarenta caracteres.

Admiro as aranhas
Que não criam redes.
Sou das teias.

Estou velha.

domingo, 6 de novembro de 2011

Das Desnomeadas

Algum desespero move-me
Da palavra presa
Da língua apagada
Alguma agonia toma-me.
Toma-me com essas mãos atadas
A esse maldito lápis que não escreve
A essa caneta que não cede
Ao meu copo destilado
E à poesia do outro.
Nem sei em que dia me encontro.
Ou desencontro.
Sabe-se lá
Esses destinos loucos da vida
Acorrentados a um caderno fechado.
Algum desespero prende-me
E não está nada bem.

Para Charles Bukowski

sábado, 22 de outubro de 2011

Notas Lizas (Soneto Russo)

Há anjos e demônios
E eu conheço bem os meus.
E os desconheço todos.


Na fumaça que trago,
Livro o ar que me deixa tonta
E danço ao silêncio de minha espera.


O silêncio brilha, grita,
Fita-me em você.
Que, aliás, pode ser qualquer eu
Aprisionado naquilo que penso.


Existe beleza nisso,
Nesse equilíbrio em desatino.
Sou exatamente o distinto
Natural de cada ser humano.

Mãos Dadas

É possível o amor.
Nos olhos de um no outro
É terno o afeto,
Como se houvesse passado um ano.


Magno ele,
Ordena em seu muro a queda
Para a chegada dela.


E ela se faz Capitu criança:
Finge-se difícil e seduz em dança
E inquietude quando nada se espera.


Nas desavenças,
Cada um tem mais razão a não ceder.
Mas o tempo que os sinos da varanda levam para bater
É suficiente para que já se lembre às gargalhadas...


O imperfeito romance romântico
Idealizado por qualquer autor do Império
Assisto há vinte anos
De camarote, lenço e documento.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O Ano do Toelho

Com amor, para Vargas

Há quanto tempo não escuto
Aquelas suas piadas de mau gosto...

Como eu queria lhe apresentar o Velho Safado!
Garanto que desejaria ser ele em algum momento.
Com certeza, seria.

Mas imagino que já o tenha encontrado.
Sabia que quase fui eu que lhe encontrei?
Foi há pouco, e por pouco, meu amigo.
Confesso, porém, que lhe ver não seria ruim.

Sinto falta da surpresa nas suas visitas
E das nossas longas caminhadas, biritas, risadas...
Em minha memória,
Repito o disco com cada história
Que alegrava o meu caminho e de quem passava.

Gostaria muito de ouvir as novas,
E sei que falaria sem parar
Com pausas apenas para aquelas nossas gargalhadas.

Um dia a mais...
Mas o senhor não quis esperar nem um tico,
Que é pra eu sentir a ausência
Daquele último abraço apertado não dado.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

De Varinha

 Aos futuros historiadores de hoje

Chamavam-lhe mestre
Aquele velho francês
Que enrugava ainda mais
Suas severas e profundas linhas de expressão
Para falar o bom e velho português.

Em seu sotaque passarinho,
Todos calavam seus olhos,
Já que ele tratava de arregalar os próprios
Por vir da terra da grande revolução.

O mago lançou-nos aquela mágica varinha
Mas ela jamais iluminou
Ou encantou qualquer cidadão dali.

Seria o velho um sábio
Ou um deluxe babão?

Maria Dança

Maria tinha aquele sorriso
Como quem chamava e não se importava
À ruína do outro.

Tinha uns olhos assim,
Um tanto fechados,
Para que não enxergasse, em nada, um fim.

Ah, Maria quando dançava!
Jogava aqueles cabelos desgrenhados ao vento,
Cuidando que não tocasse o chão
A barra da saia.

E era assim mesmo,
Requebrando-se com jeito de querer,
Que obtinha todos
Os olhares de quem quer ver,

Ter,
Reter
E satisfazer em si
O desejo da dança de Maria
Na carne própria.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Oásis

Quis te fotografar.
Uma imagem tua
Só minha.

Talvez procurasse material
Para beijar, ou guardar.
Mas não sou dessas que junta fotos
Ao fundo de uma gaveta.

Quero te lembrar,
Com o coração apertado
Mesmo
Que é para te entregar
A mim
Mesma
Em cada extremidade, laço,
Canto e verso.

É que para haver oásis
O deserto deseja sua porção de água.
E eu, longe de tua ilha,
Desejo que o teu mar
Deságue em mim.

Ou apenas apareça,
Assim como quem não quer nada,
E me beba toda.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A Cor Dá

O dia acordou sorrindo:

O pão que eu como está barato,
O livro que leio é raro,
A sorte me surgiu de um negro gato.

O sinal estava aberto quando atravessei,
Ri da fila do banco em que esperei,
O louco andava só e sentia-se rei.

O dia acordou sorrindo,
E não me importo se tantos ainda dormem.
Você está aqui comigo

Harmonizando sorrisos,
Rindo com os olhos
E fazendo dos meus braços
Os mais saudosos

E macios,
Prontos para a sua volta.

domingo, 2 de outubro de 2011

Doce Caminho Até Você

Beijos sabor ilimitado
No céu de minhas estrelas.
Sorte minha trazê-los para dentro do peito,
Iluminando tudo que sinto.

Sorriso meu,
Que aumenta a cada passo
Da tua chegada.
Minha feliz jornada
Pelos seus caminhos.

E não há verso que leve
Mais poesia que estar em seus braços.
Fecho meus olhos e me sento viva.


Acordo ao ouvir seu
"Vem cá, minha vida".
Distraída,
Sou inteira sua.

sábado, 10 de setembro de 2011

Dois Cigarros e Uma Caixa de Fósforos

Todos dançavam Legião
E eu cantavapulavasorria
Voava
Alto!
De olho fechado

E assistia aos beijos
Nossos
Como à uma tela de cinema

Um Odeon em festa!
Que não vivemos hoje
Lado a lado com um sonho

Ah, teus olhos sorridentes - 
E só eles! -
Levariam ao abrir dos meus.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Atravessiamo

Prendeu uma parte dos cabelos.
Pintou a boca, os olhos
Como se fosse para a guerra.

Vestiu-se de branco e preto
Para equilibrar o tom.
Olhou-se no espelho
De súbito, e rápido,
E sorriu para ninguém.

Saiu.

Encontrou.
Sorriu para aquele alguém
E com o olhar sussurrou:

Fecha teus olhos.
Deixa que sopro desejo ao teu ouvido,
Enquanto nos ponho a dançar.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Velha Moça

Fala pra moça
Que estou pronta pra ir
De braços abertos
Para o acaso levar


Deixa um rastro de caminho
Que eu consigo me achar


Não se demore, moça
Que vem devagar
Para despistar talvez o óbvio
Para alguém dizer que não consegue entender teu ponto


Todo clichê conta alguma verdade
Depende do que quiser ouvir


Mas vem
Vamos partir
Num sopro
No álcool
Ou pelo chão
Num acidente
Tente
Acho que não
É tão bela ou singela
Quanto me prometeu.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Irene

Irene gostava de vestidos.
Gostava de saias e dos suspiros
Que causava.

Irene gostava de sorrir,
De fazer o outro rir
Mas não gostava de não ficar.

E como todo furacão que se preze,
A mulher passou a fim de deixar sua marca
Para não ser esquecida
E passou.

Irene, hoje, deita-se todo dia
À espera de palavras de amor ao ouvido
Ou mesmo carinho em algum gesto
Antes de estar dormindo.

Irene nunca mais dormiu.

Último de Agosto

Só.
Como todos.
Como as paredes que vigiam.
Como manequins atrás dos vidros.
Como o homem que fuma seus cigarros na sacada.
E só.

À Deriva

Mesmo que as ruas desertas não tenham água,
Continuo à deriva,
Flutuando em qualquer sala
Na imensidão sem fim de mim.

Mesmo que não haja proa,
Continuo sem destino.
Meu norte perdeu-se
Da bússola.

Mesmo que o tempo passe,
Continuo sem senti-lo.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

a febre no corpo
a chuva na janela
a moleza na vida

sábado, 13 de agosto de 2011

Olhos de Silêncio

Aplica-me o olhar do silêncio
Que falou-me tanto sorriso
Naquela sintonia fácil.

Evita dizer nos olhos
O que silencia com seu desvio
Distante e ágil.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Farol

No verde-água de seus olhos,
Sou longe,
Sou quebra-mar.

Nas marcas dos teus abraços,
Sou quente,
Sou teu amar.

Na canção em seus ouvidos,
Sou rádio
Quebrado, que repete a melodia.

Aquele amor finito
Jamais voltará.
Somos águas das ondas:
Cada uma a renovar
O que eu, farol,
Hei de iluminar.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Dia Que A Lua Riu

A Lua olhava a todos lá de cima,
Ria de cada pequeno problema
Com aquela ironia ímpar
De despertar raiva.

Pequenina,
Pular até cá é utopia!
Não me atinge nem um sopro,
E tua queda ainda multiplicará tua ruína!

Uma gargalhada
E um piscar de olhos
Escurecia sua curta e irritante jornada
Para trás das montanhas.

Sobrava em sua rapidez
A melancolia e a soberania
De quem vive sozinha.
Em seu sorriso,
Restava-me a insensatez.

domingo, 31 de julho de 2011

A Vida Em Cento e Quarenta Caracteres

            Era um amor daqueles dispostos a enfrentar cento e quarenta caracteres. Cada letra, uma nova batida dentro do peito. Bonito mesmo era quando chegavam às tais DMs, aquelas mensagens que os dois poderiam ler. Porque privacidade é preciso.
            Doralice não gostava de seu nome nas redes sociais. Achava out demais! Era, então, alicenopaisdasmaravilhas. Assim, tudo junto, com um arroba na frente. Afinal, sem o arroba, ela não seria ninguém. Já Ronaldo achava seu nome o máximo. Era o nome do Fenômeno, que encerrou sua carreira fenomenal num amistoso contra a Romênia sem nenhum gol. Mas foi um jogo lindo, marcado para a história! Ronaldo até fazia piada quando o Fenômeno jogava no Corinthians, mas, depois do jogo contra a Romênia, seu homônimo era um gênio!
            Ronaldo não ligava muito para vaidade. Achava que não era coisa de homem. E para deixar bem claro de que era um, seu nome no Twitter era Ronaldão, com arroba na frente, claro. Sem o arroba, ele não seria ninguém.
            Um dia, entre um tweet falando sobre sua fome e os gols do Brasileirão no ar no “Fantástico”, Ronaldo viu o perfil de Doralice num RT qualquer. Clicou em sua foto e viu uma bela menina num auto-retrato no espelho. Logo, passou a segui-la. Doralice sorriu ao ver que tinha mais um seguidor em sua lista. Achou Ronaldo uma delícia!
            E as juras de amor de um para o outro vinham de outros perfis de frases feitas. Tudo em cento e quarenta caracteres. Jamais se viram, e nem pensam nisso. Doralice e Ronaldo gostavam mesmo de mostrar ao mundo em como eram bonitinhos. As meninas achavam Ronaldo um fofo, e os rapazes queriam mostrar a Doralice que eram melhores. E todas as amigas de Doralice também achavam lindo!
            Ah, a vida é mesmo feita para cento e quarenta caracteres!

Amsterdã

A loucura deve ser regularizada.
Regular deve ser o pão, o circo,
As batidas do meu coração
E tudo mais que me deixe espantada

Ou extasiada.

O amor precisa ser regrado
Como mulheres nas vitrines,
Nas esquinas.
O amor deve ser barato.

A fumaça deve ser concentrada.
Mas ela se espalha.
E se espelha tão depressa
Que não há nenhuma regra
Ou lei que a faça ser parada,

Assim como as canções,
Os corpos unindo-se,
Os copos brindando,
Os risos.

E não há linha no mundo que faça regulamentado
O acelerado bombear de vida
Do louco apaixonado.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Pingo D'Água

Veja só,
banalizaram o amor!
Fizeram-no de bobo!

Disseram que ele vem com quem chega;
disseram que ele vem com a mentira;
disseram que ele vem com a falta da partida.

Sim, ouvi.
Estava bem ali,
ó.

Estava quietinha
com meu fone e pensamentos.
Mas quem não ouve quem fala
por meio de gritos?

Era tanta coisa feia,
era tanta gente feia
que me senti feia
só por testemunhar.

E testemunha é mesmo coisa chata,
seja por julgamento,
seja de Jeová.

Mas olhe bem,
assassinaram o amor!
Torturaram, cuspiram,
massacraram! Todo!
Troço
Destroço
Engrosso
Bagaço
Traça
Desgraça
Embaraça
Graça

terça-feira, 26 de julho de 2011

Doce Meu

Ah, se achegue...
Não há doçura mais doce
Que sua voz sussurrando em meu ouvido,
Me cantando
Como só tu.

Me aconchegue
Nessa tua dança tão felina,
Tão ferina minha.
Sh... Não pense em amanhã
Que vivemos agora,
Meu bem.

E hoje eu quero sua pele
Derretendo em minha boca
Feito algodão-doce.
Deite
Que quero ouvir sua voz rouca
Adormecer em mim,

Bem aqui.

domingo, 24 de julho de 2011

Silencioso

Quero meu conjugado de volta.
Quero ouvir apenas o balanço da cadeira
Combinado ao uivo do vento.

As letras impressas
Me são mais confortáveis
Que aquelas convertidas em fonemas.

Gosto e desgosto dos encontros calados.
Não preciso de voz para falar a mim.
Percebo o nevoado, e tenho medo
Do que conheço e deixo de conhecer.

Quero solitar
Sem som de novela ou de música.
Quero repousar, mesmo que por uma hora,
Em minha própria companhia.

Odara

Demasiado cedo Odara acordava,
Numa hora que nem a Lua
Sabia se virava ou ficava.

Esperava cercada de névoa
Entre tantos e nenhum
Qualquer carona que a levasse
À sua tão desejada alvorada.

Espremida dentro de si, e tão pequena,
Odara observava a cansada Brasil
E sua megalomania.
Pelos seus olhos rasos, passava somente a melancolia
Que ninguém via.

"Precisas da rotina para sobreviver", diziam.
Mas Odara cansava-se até dos dias que ainda viriam.
E num salto solto
Sem olhar ao lado, ou para trás
Sobrou apenas a cor do luto nas unhas.

Odara,
Agora,
A que Deus dará?

domingo, 17 de julho de 2011

Óculos Escuros

Vejo festas sobre nada
Alimentando o silêncio.
Vejo a mesa vazia montada
Mantida para a lacuna de quem as usa.
Vejo aquele riso vadio
De quem sempre está sozinho,
Homens vagando pelo mundo
Seguindo a um outro
Pelo pavor de seguir a si mesmo.
Eu vejo a mim mesma disfarçada de palhaça
Enquanto ouço os risos de minha desgraça.
Vejo o fim anunciado
De um começo renovado.

Mas tenho medo do que não pode ser visto.

(E arrisco)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Fogos

Terminarei, quem sabe, os dias
Com minha voz fraca
Falida?
Logo eu, que gosto de cantar
E falar - quando resolvo - de voz impostada?

Escrevo à mão,
É capaz que não consigas compreender:
Som sim e não
Explodindo algum céu em você.

Porém, meu prazer
É não ter mais um óculos.
E talvez seja mesmo a sina do poeta
Morrer pela própria letra.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Ares

O que vem daí
Escorre por cada poro de meu corpo
Até chegar à alma.
Uma vez lá,
Vira casa, moradia,
E vento algum derruba.

Aquece.
Te aqueço.
Aquiete-se

Que quero ouvir teu zumbido
Respirado no lado esquerdo.
Deite-se aqui
E me abrace.
Beije.

Feche esses olhos
Que eu trato de não abri-los.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Águas

O que queima os olhos,
Que cai,
Se disfarça nos pingos
Que lavam o corpo.

O espelho é invisível
Aos olhos cheios de vapor.

Mal sabem o que vêem.

Misturam-se as águas
Que vão e vem
E vão de vez.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Anti-horário

A mistura das noites chega.
Quer mesmo me acompanhar?
Pois venha.

Vamos conversar, falar de poesia,
Das pessoas à nossa volta,
E talvez haja até um pouco de dança.

Você vai procurar amor na minha diversão.
Eu, distraída, sentirei o tempo passar.
À porção que se apaixonar,
Vou me entediar.

E o calendário acabará uma hora
- o que me levará embora -
Você vai pedir que eu fique.
Logo, ouvirá meu relógio do avesso:

Taque-
Tique.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Sétimo

Fala-me e silencia
A tua ausência
Em ruídos.
Tira-me dos sonhos
E amacia a minha carne
Com um daqueles martelos.

Siga, mas não deixe
Que se vá.
Não perca esse olhar,
Deixa-me ficar.

"Não pensa que eu fui por não te amar..."

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Começo de Junho

Dancei para a chuva no último carnaval.
E é somente o último dia
Que traz as cinzas e a euforia
Do último sinal.

Foram-se os risos,
Os cantos...
Foi-se história!
Até um "s" sem chiado
Foi embora ao final do dia.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Os Mais Verdes Sabor Anis

Chegou ao último dia com se fosse
O primeiro,
Ou ao primeiro
Como se fosse o último.

Tudo depende do ponto de vista
Ou da vista do ponto.

Na pele, carrega
O escuro e silêncio
E sua verde estrela.
Sono é algo a ser respeitado!
Então, dele veio, e é guardado
Pelo grande deus sentado
No braço.
E por outro verde de grandes olhos,
Mas é segredo!

Também traz consigo a música
Em seu ombro e sua perna.
Afinal, é tempo de dançar palavras!

E são nesses brilhantes olhos de mar
Que a fada verde canta!
Encanta a quem passa
E decide ficar.

É a união dos tons sortidos,
Que se apresenta ao mundo
Exatamente às treze e quarenta e cinco.
Prepara-te, que, para partir,
Os relógios são derretidos!

Chegou ao primeiro dia como se fosse 
O último,
E ao último
Amando como se fosse o primeiro!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

O Velho Camuflagem

O velho que persegue bar a bar
Desatava a dançar!
Era João sem Maria,
E só sabia voltar para casa
Pois as doses para o santo
Marcavam seu caminho.

De manhã, o sol brilhava
Dentro de seus vidros.
Os raios que lhe atingiam
Não eram os demais vadios.
De manhã,
A dor e a ressaca do amor perdido.

E se conseguisse, ajoelharia
Por perdão pela diversão
Que gastara sem seu par.
Como poderia dançar sem sua doce Maria?

Se a vida não parecia seguir,
O velho seguia cada noite:
Em cada copo, um souvenir;
Em cada garrafa, uma canção,
Um samba qualquer que implorava
O dia em que não levantasse do chão.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Boneca de Pano

Na livre prisão
de si,
a culpa de sua própria
responsabilidade.
Giros dentro de seu círculo
e chega ao fim seu infinito dia.
Da leveza escorregadia de sua mão,
o adeus não
se completa.
Foram só as cinzas
que sobraram. A fumaça,
seu cheiro, nada passa.
A exaustão.
A dança.
A chama.
O não.
Da minha vida, vive
O amor.
O plural do amor.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Granada

Lambuza essa boca!
Usa, abusa desse tom!
Flutua, delícia, por todo o salão...

Esse vestido dança levemente
Como a quem lhe pertence.
Quase dói de se ver...
Olhos podem comer?

Ela vai de lá para cá
Como quem não se importa com nada.
E quando a lua se for
Será que me leva para casa?

É mais uma que vai partir
E se partir por me deixar.
Há algo mais a pedir?

A conta, por favor.

Sim

Delicada manhã
De abraços e embaraços,
Corpos macios.

Os suaves toques
São calor no frio,

São sem amanhã.

Arrasta-se
Essa vontade de ficar,
Ou simplesmente de não se deixar.
Só resta ouvir "sim".

Lonesome

Lá vai o cavaleiro das chuvas...
Ele dança, ele pula,
Bebe, faz cem firulas,
Anula seu tempo.

Canta para encontrar
Sua chama vermelha,
E se encanta ao deitar
Em sua fogueira-cama.

Abriram as cortinas!

O Sol não saiu,
Mas ele sim.
A chuva não caiu.
Porém, ele sim.

E as ruas estavam vazias
Como sempre.
Fácil é a alegria da liberdade de quem sente.
Difícil é jornada-partida do só, somente.
Só mente só.

Lá se foi o cavalheiro das ruas...

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Quebra-cabeça

Quebra-se toda, a menina-mulher.
Monta-se, rua!
Desmonta-se, crua!

Dança, mulher!

Do chão, não passa.
E afinal, o que quer?

Deixe que suas longas pernas te levem.
Que, de preferência, te vendem!
Pois tens medo até de enxergar.


Lembre-se: quem não é gato,
Vive uma vida por vez.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Otenos

Tudo é silêncio.
Nem insetos fazem tanto barulho.
Não há som que quebre este vazio.

São só os ecos do nada
Que chegam para lembrar
Da estranha inércia tão conhecida...

A loira até avisou:
- Mate o tempo, antes que o tempo te mate!
Pois nem vivo nem morro

E o tempo mal me bate.

Não sinto.
A solidão engole o que há por dentro
E apenas leva o brilho dos olhos,
Deixando comigo o inverso do soneto.

domingo, 17 de abril de 2011

Amafosse

A Hilda Hilst

Se cada mulher sentisse o que nós...
São, mesmo, muitos nós.
É tudo enrolado.
Obsceno e divino.

Deixaste, alguma hora, o entender
Ou a vontade de entender?
Eu nem sei mais.

Sei que daria-me tuas delicadas loucas palavras.
Quem sabe, mandaria-me buscar?
Pois preciso ir.
Preciso inventar viagem.

Tu já dizias: o amor é (agri)doce.
Eu devia acreditar.
Mas, assim como você,
gozo ao arriscar.

É da nossa natureza não saber.
E pior: querer conhecer,
encontrar, examinar,
desejar esta entrega
e entregar-se completamente cega.

Ensina-me muito ainda!
Não me canso, sou insaciável.
Esta noite, ao deitar nesta cama,
quero o teu peso plumeado. 

Rótulo Vermelho

Homem da garrafa, me rega!
Me carrega para longe de mim.
Apodreça meu corpo!
Mas nunca, jamais deixe de me tirar de mim.

Me transforme em outras,
Me deixa louca!
Ai, antes tivesse me apaixonado pelo teu corta-garganta
Que por aquele aroma Armani Mania.

Me joga na cama, senhor da bonança,
Me apague!
Faça-me cantar, alto e muito
E depois me traga seu sono.

Dure muito tempo dentro de mim,
O máximo que puder.
E quando eu acordar,
Me lembre de chorar pela ressaca.
O amor mastiga, com gosto.
Chicoteia.
Esmaga.
Mas não morre.
Nem mata.

Ainda

Ainda que os lábios não se beijem
Ainda que os olhares não se cruzem
Ainda que as vozes se calem
Ainda que os carinhos não se troquem
Ainda que os sons cessem
Que as estações mudem, que o tempo passe
Ainda que as gotas caiam
Ainda que o encaixe esteja desencaixado
Ainda não se possa ouvir os risos por todo lado
Ainda que de longe

Ainda assim, te amo. Muito.

Relógios Derretidos

Eu quero que o tempo pare
O tempo pare
O tempo ouse parar
Dentro de mim

Esse silêncio visceral mata
Me amarra e desgasta
E some de novo, enfim

E como é que se pode viver
Há espera de mais incerteza que cresce?
E como é que se pode viver
Sem a confusão do seu ser?

A calmaria é coisa rara
Parece barata
Mas é cara, é cara
E eu quero ganhá-la

Então se chegue levemente
Sorrateiramente
Se encaixe e me beije
E não a deixe partir

Não me deixe partir

Não se deixe partir