segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Arritmia

Deve haver
Alguma identidade fissurada
Entre a tinta de caneta dos meus livros
E o lápis das minhas poesias rabiscadas.


Deve haver
Um eco mudo
Dessas palavras
Em cada som
Que não escuto.


Deve haver,
Ainda que de longe,
Uma explicação
Para toda esta difusão
Confusa de minha mente,
Corpo e reação.


Mas não hoje.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Dias-Sim

Desejei adormecer nos seus braços
Escondidinha em tuas asas.
De fora, só os meus olhos.


Imaginei te agarrar
À luz que entra no quarto
Para nunca-nunca mais soltar!


Nem você, nem ninguém da multidão
Nem ninguém que sabe rezar
Pode sonhar
As preces que inventei para acelerar esses dias-não.


E enquanto não dá,
Aperto o coração
Em beijos grudados na tela
Numa disparada sem razão.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Subordinação

O dicionário teima em apresentar
As palavras em esfera exata,
Como se a gramática fosse
Matemática.


Se me dá suas mãos,
Justaposto está;
E se me come,
Aglutina-me(-se).


Por que diabos composição necessita de nome?


Não se descreve o que sinto
Em termos criados protocolados carimbados.


Apenas sinto.
E escrevo.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Galinheiro

O galo cantou
E eu nem ao menos tinha dormido.
Talvez não sejam as horas
O único motivo dessas olheiras.

Será esse sono atrasado
Tempo perdido ou furtado?

A essa altura,
Não sei se me desejo boa noite
Ou bom dia.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Jogo de Espelhos

Me vejo no vidro espelhado
E não reconheço esta fera.
Quem me espera
Do outro lado de mim mesma?

sábado, 7 de janeiro de 2012

Sétimo Andar

Quero estar à mesa
Enquanto você prepara o jantar
E me canta aquelas canções
Como só você sabe me cantar.


Quero me aconchegar no seu peito
Ao final de um dia frio
E não perder a hora da novela
Só porque você gosta dela.


Ouvir você reclamar
Porque lavo a louça ou pois tudo ficou uma bagunça
Que eu devo arrumar
Antes mesmo de ir para a cama.


Falar do meu amor por você
E te ver sorrindo antes de poder responder
Que a sua vida se conjuga à minha
E não há outro jeito de ser.

Casa

Acordei hoje ao som de tua voz
E quis voltar a dormir,
Para encontrar em sonho
A maneira que apenas nós
Sabemos sorrir


Quando nossa dança chama,
Quando a cama canta,
Quando a tua boca beija a minha
E tudo fica em paz.


E tudo teu que veio comigo
Foi o teu cheiro
E só o meu ser inteiro.