quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Às Moscas

Foi coisa rápida que pareceu longa
ou coisa assim.
Foram uns olhos tão fundos, intensos,
atentos
que o tempo não sabe quantas voltas
deu.
Talvez fosse hipnose daquelas vozes
ou do beijo
que fez o mundo inteiro parar
ou sumir
para que eles pudessem passar.
Foi algo que ninguém explica,
uma sintonia,
uma sinfonia silenciada.
E no começo-fim do dia,
dormiu às moscas.

domingo, 27 de novembro de 2011

Sobre o Abraço

Veja só como são as coisas:
Você me falava da vida
E a única ação que eu tinha
Me saía nos olhos.

Era algum tipo de colapso
Que paralizava na cama
Minha vontade de me largar
Para te dar meu longo abraço.

Veja só como tudo é:
Te sinto com um atraso
E me falta até quando
Você ri enquanto desdenha de meu pé.

Me vejo entre tudo e nada,
E me arrependo de ter lhe abraçado
Quando havia aquele gordo obstáculo.


Me confundo com o tempo,
Que mal sabe se cai ou firma,
Todo este desconforto
Porque deixei de lhe dar o abraço.


Devo mesmo ter esquecido
Alguma parte de mim
Ao seu lado.

sábado, 26 de novembro de 2011

Durma Bem

Durma, menino bonito,
Aqui no meu peito.
Minha festa é acarinhar
Teu cabelo negro.

Daqui de mim,
Eu te protejo.
Não há gosto melhor
Que o teu beijo...

Mas não vou lhe acordar,
Quero o teu corpo calmo no meu.
Sua pele fervilha
Quando cabe aqui no meu colo.

Eu espero amanhecer
Para o verde dos teus olhos
Trazerem luz para o dia,
Cravo do dia!

Aquário

Sinta a minha calma.
Nem parece que fui
Um ontem de agonia.

Sinta a minha alegria.
Ela escorre em sinfonia
Nas minhas esganiçadas
Fontes de risada.

Não tenha medo de nada,
Pois vou segurar sua mão
Para você não cair.

E se cair,
Não me ausento um segundo
Enquanto não lhe fizer subir.
E, se possível,
Ainda roubo um sorriso.

Sinta meu colo.
O farei todo seu,
E o mais confortável.

Sou.
Sou inteira.
Do estar, sou apenas ligeira.

Dos Defeitos do Leão II

Constrói
Desconstrói
Destrói
Dói.

Aí sim reconstrói.

Dos Defeitos do Leão

Entisteço-me e desespero
Com a fragilidade de uma pétala de flor.

Não é por mal
Nem de propósito,
É que eu sinto.

Sinto demais.
É o tal exagero do meu signo
Que nem mesmo acredito.

Penso demais.
Minha cabeça é um mar revolto
Com medo das minhas próprias ondas.

Eu me escondo em minha sombra
Pois me assusto com o meu drama.

Cobro demais.
Sou um coletor de impostos meus
Que não posso pagar.

Massagem Antes de Partir

Meu amor,
Você me olhou de uma maneira
Tão intensa e verdadeira

E me tocou
O rosto com uns dedos leves
Com afeto e com confetes.

Meu amor,
Nem você sabe que meu coração parou
De tão disparado.

Nem você sabe que o seu beijo
Tinha uma paixão
De quem ama calado.

Era o meu amor
Que estava ali.
É a mais certa das incertezas.

E se for, ficar,
Ou nunca mais voltar,
Esse é o meu amor.

Para o único anjo desta flor

O Pulo do Gato

Descobri que teu Kandinsky em mim
Era enrolado
Como tua poesia em papel de bala
Que eu materializei.

Teus olhos de luz
Reluziram os meus.

Eram sua palavras chegando
Que escorregaram no meu olhar.
Era a tua fumaça
Que espantava o gringo.
Era o teu sorriso
Que pedia beijo.

E ainda nos teus olhos
Percebi a grandeza
De uma alma inteira.

Era uma noite quente na Lapa de quinta-feira.

Para meu poeta e amor, Leleco

domingo, 20 de novembro de 2011

Vende-se

Vendo uma consciência.
Dôo até.
Não está intacta.
Na verdade,
Encontra-se de maneira bem bagunçada.
Há de se achar modo de reparo
Porque ninguém gosta de dor.
Há, também, bastante alegria,
Mas, no momento, está em falta.
Compreende-se nela
Um quê de Dostoiévski, Bukowski,
E a esperança de Alice e Leminski.

Caso haja interesse,
Entrar em contato.

Velho Moço dos Amendoins

Janaína na garoa.
Um encanto de menina.
Velho moço e seus amendoins
Fazendo piada da vida
Já que não pode dar fim na maldita.
E nem quer dar!

Janaína não chamava atenção de ninguém.
Não dançava, não comia,
Mas sabia jogar os cabelos
Assim como tinha vintém.

O velho moço dos amendoins observava a cena:
Os pequenos gracejos aos breves sorrisos aos beijos.
Janaína era só uma menina que queria o novo.
Mas o novo deixa de ser novo.

E o velho moço dos amendoins
Via a fita repetida
Do começo ao fim de seus dias.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Maria Hilda

A roupa de cama havia rasgado.
Não foi de propósito,
Tampouco lamentara o ocorrido.

Depois do fracasso de sua overdose de comprimidos,
Maria Hilda resolveu faxinar o quarto
Às quatro da matina.

Para começo de papo,
Maria Hilda desligou o despertador.
"Se a temporada de insônia chegara,
Não precisarei de aviso para acordar".

Após xingar mentalmente
Àquela cartela de calmante
"De farinha", Maria Hilda iniciou
Pela gaveta das calcinhas.
Organizou-as por cor, sensual e sutien.
Descobriu que precisava de uma gaveta dos sutiens,
Mas achou trabalho demais para uma madrugada.
Deixou pra amanhã.

O alvo seguinte foi a sapateira
Que estava uma bagunça só,
"Umas combinações sem eira nem beira".


Pausou,
Suspirou,
Chorou um pouco
E prosseguiu.


Maria resolvera por o armário em dia.
Vestidos à direita, blusas-que-não-podem-amassar à esquerda.
E o que podia amassar
Iria pra dentro da gaveta mesmo
Que ninguém via.


Por fim, Maria decidira
Por seus papéis na mesa.
Arrumou-os simetricamente ao computador.
Os fones de ouvido, jogou ao lado
Daquele seu canetário de time.


Satisfeita, recolheu-se à cama
E deitou-se no escuro.
Percebeu, novamente, que sua única companhia
Era o brilho acesso de seu cigarro.


Chegara a temporada de insônia.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Coração de Pimenta

Foi a primeira vez que vinho
Ardeu ao descer a garganta.
Como num cheiro costurado
Ao travesseiro, sinto a saudade queimar

Todo o meu corpo,
E lamber toda a minha sanidade
Com suas agulhas de ausência.

E quem disse que é calma a loucura?
Meu coração de pimenta
Explode, grita dentro de alguma caixa
A espera daquela chegada

Em silêncio.

domingo, 13 de novembro de 2011

São Paulo, Dia 3

Algo falta-me

Na distância

Nessa insônia de você


terça-feira, 8 de novembro de 2011

Telas de Aranhas

Não demonstra-se criatividade
Criando paginazinhas na internet;
Nem vejo felicidade
Em lingerie de cento e quarenta caracteres.

Admiro as aranhas
Que não criam redes.
Sou das teias.

Estou velha.

domingo, 6 de novembro de 2011

Das Desnomeadas

Algum desespero move-me
Da palavra presa
Da língua apagada
Alguma agonia toma-me.
Toma-me com essas mãos atadas
A esse maldito lápis que não escreve
A essa caneta que não cede
Ao meu copo destilado
E à poesia do outro.
Nem sei em que dia me encontro.
Ou desencontro.
Sabe-se lá
Esses destinos loucos da vida
Acorrentados a um caderno fechado.
Algum desespero prende-me
E não está nada bem.

Para Charles Bukowski