quarta-feira, 21 de julho de 2010

Sur-Realismo

            Havia um grande mural na parede. Ele figurava um centro urbano, colinas muito geladas ao fundo e um relógio enorme e fluorescente a frente de tudo. O mural surreal estava situado numa sala muito cheia de vazio. No rádio tocava a primeira música do Los Hermanos enquanto, num dos cantos do ambiente, uma menina de esmalte lascado permanecia paralisada como se esperasse algo muito importante, ou talvez não esperasse por nada.
            A expressão de seu rosto era indecifrável: não sabia-se se chegava ou ia, se sorria ou sofria, se vivia ou morria. Muito curioso. Ninguém ousaria aferir qualquer sensação àquela criatura de cabelos longos.
            Ao fim, acreditava-se que a menina poderia ter saído do grande mural que compartilhava aquela sala com ela mesma. Aquela confusão toda e o excesso de informações traduzir-se-iam num semblante tão imprevisível... Ela borbulhava por dentro e naufragava por fora. E, como no relógio surreal, o tempo passou mas os ponteiros não pareceram mudar de posição. Alguns minutos passaram e pareceram horas, e quando as horas foram, pareciam poucos minutos somados. Surrealismo e realismo misturavam-se cada vez mais. Era a vida tomando forma de arte e a arte tomando vida.
            E quando foi que isso deixou de ser visto por nós?

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