terça-feira, 13 de julho de 2010

Olhos Azuis

Eram olhos penetrantes. Azuis, intensos. Contrastando com a camisa de seu dono, de mesma cor, aqueles olhos azuis se guiavam na mesma direção que os meus.
       Havia um obstáculo. De vermelho intenso, com um rosto bonito, cabelos castanhos e a pele branca bronzeada, tipicamente carioca. Linda. Não tinha os mesmos olhos que os olhos azuis, a direção era diferente. Ela olhava para seu lado esquerdo, olhou para onde eu estava somente uma vez, por milésimos de segundo. Apesar de mais velha, sentia-se insegura de me olhar, do mesmo jeito que senti e fiz com os olhos azuis. Não entendi o porquê desta reação, eu não demonstrei nada que a levasse a isso.
       Eu tive um motivo. Os olhos azuis focavam nos meus. E assim continuou por muito tempo. Logo comecei meu jogo e fiquei olhando-o até que parasse de me olhar. Porém, como sempre, traí a mim mesma e não consegui manter o olhar. Meus olhos não conseguiam se focar nos olhos azuis como eles se focavam nos meus.
       De repente, os olhos azuis se perderam. Neste momento me senti segura o bastante para analisar toda a cor e a beleza daqueles olhos. Minhas pupilas provavelmente devem ter se ajustado e reajustado, como o zoom de uma câmera fotográfica faz. O foco aproxima-se, afasta-se e por fim aproxima-se novamente, mas, na verdade, chega cada vez mais perto do lugar esperado.
       Senti algo bom no começo. Talvez um pensamento futuro que não aconteceria, uma fantasia premeditada totalmente fracassada. Sorri. Esqueci da moça bonita de vermelho, esqueci das pessoas em volta, do lugar onde estávamos. Éramos só nós, eu e o dono dos olhos azuis. Sem uma palavra, ele levantou, veio até mim e sorriu sem mostrar os dentes, mas eu não consegui esconder os meus. E quando seus lábios iriam encostar nos meus, os olhos focaram-se nos meus novamente.
       Percebi rapidamente as pessoas em volta, a menina de vermelho e que o dono dos olhos azuis continuava sentado ali na minha frente. Senti algo estranho. Os olhos azuis continuavam lindos, penetrantes, mas agora me pareciam sujos, repugnantes.
       Olhei para trás. Vi uma televisão, distração incontrolável. Olhei para os olhos azuis novamente, em minha direção. Rapidamente meus olhos exalaram um ar de desprezo e fugiram dos olhos azuis. Meus olhos não faziam diferença alguma, não ofuscariam tamanha distração.
       Eram olhos previsíveis demais. Azuis, lindos e previsíveis. Tudo de muito previsível me repele, e esses olhos previsíveis só se juntaram a milhares de outros olhos previsíveis, tornou-se um número.
       Um brinde.

Escrito originalmente em 2009, publicado em 03 de agosto de 2009

http://mtv.uol.com.br/txt/blog/txtdermiatentando-focar-os-olhos-azuis

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