quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Hilda e A Noite

            Hilda deitava-se tranquilamente. Com o movimento, a barra de sua camisola flutuava e caía levemente, como uma pluma. Esticava-se, deitada mesmo, para deixar o livro, os óculos e a calma na cabeceira. O troféu sereno que carregava durante o dia se afastava na mesma hora que o sono deveria chegar.
Porém, quando as luzes se apagavam e o silêncio reinava para que a mente descansasse, era aí que a desgraçada arrediava-se. Hilda pensava em verde, roxo e amarelo, em triângulo, quadrado e círculo, em ódio, orgulho e amor. O coração não batia – metralhava no peito! Doía! Queria chorar, rir e observar, tudo ao mesmo tempo.
Quando o tambor descontrolado reduzia o ritmo, Hilda finalmente adormecia. Aliviava-se dos males pré-inconscientes de uma vez por todas. Entretanto, os sonhos eram de uma violência tão dura que era melhor mesmo não ter tentado dormir, como qualquer mortal faria. Pobre Hilda, que sentia na alma as dores que os sonhos lhe causavam! Acordava como quem havia entupido as veias de álcool no dia interior, com a cabeça explodindo sentimentos que o coração não agüentava só.
            E então, Hilda levantava, esticava os braços como quem quer esticar a vida e seguia para sua serenidade habitual de mentira.

Um comentário:

  1. Personagem intensa, essa Hilda. Gosto de personagens assim, tingidos de caos, de contradição.

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