quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Álcool

Eu danço
Eu descanso
Eu escrevo linhas trôpegas sem rumo
Eu sou o antigo futuro

Eu, balanço sem nó,
Vôo, rodopio e estremeço
Caio,
E ainda ouso balançar de novo.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Quando Chegar

Não há por quê se destruir assim.
O vazio que há em você cabe também em mim.
E o que ficou
Foi o jeito, o carinho e o nosso amor;
O anjo e a flor.

Pode afogar a falta na cerveja
Ou em qualquer cereja que apareça.
Se somente for eu no teu peito, porém,
Sabes que sou tua refém.

Não se entregue assim tão fácil, meu bem
Dói em cada parte de mim também.
A gente se vê ainda,
Me avise quando chegar.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Jurandir

Jurandir, traga outra Providência
Que essa está difícil de tomar...
Há esse amor para retirar
Do meu peito que quer parar de sangrar.

Hoje eu choro esse drama
Até a última grama
Pois acabou.
Porém, esse fim tem de existir.
Se não se é feliz, Jurandir,
Por que insistir?

E eu, Jurandir, que não posso nem beber
Como é que vou fazer para essas lágrimas deixarem de pingar?
Sei bem o que cresceu, e o bem que ficou
Mas quero continuar a crescer
E o meu valor.

Isso que hoje dói em mim,
Eu sei, vai virar só cicatriz!
Só devo lembrar do quanto fui feliz,
E o que criou raíz, Jurandir
Hei de expandir!

Como Quem Ouve Uma Sinfonia

De mim, restou apenas um chinelo vermelhinho
No oceano do seu quarto.
O amor desacreditado em um
É tortura no amor de outro...

E o rádio sussurra "eu te amo calado"...
"Somos feitos de silêncio e som
Têm certas coisas que eu não sei dizer".

A dor que a minha alma contrai
Faz com que a do corpo se torne
Apenas um pequeno detalhe.

E com toda a angústia
De um grande e perdido amor,
Choro em horas
O minuto em que o vi partir.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Hilda e O Dia


            Hilda coleciona dissabores saboreando cada olhar tomado para si. Explode em forma o silêncio ignorado pelos que a observam. Hilda desfila sonhos e desejos recuados, logo feitos delírios de sua cabeça turva por dentro, clara por fora.
            A mulher esqueceu-se de como chorar, já que as águas secam, e seca também, e ainda mais, o que resta de vida dentro de si. E o sorriso, já escasso, revela-se para não atrair mais olhares de quem a cerca. Entretanto, a mágoa afoga seu peito coberto pelo nevoeiro de quem não quer ver.
            Mas o dia acabou.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

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No festejar dos beijos teus,
As feridas costuradas em pontos.
Segue a tua estrada dentro do meu peito.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Hilda e A Noite

            Hilda deitava-se tranquilamente. Com o movimento, a barra de sua camisola flutuava e caía levemente, como uma pluma. Esticava-se, deitada mesmo, para deixar o livro, os óculos e a calma na cabeceira. O troféu sereno que carregava durante o dia se afastava na mesma hora que o sono deveria chegar.
Porém, quando as luzes se apagavam e o silêncio reinava para que a mente descansasse, era aí que a desgraçada arrediava-se. Hilda pensava em verde, roxo e amarelo, em triângulo, quadrado e círculo, em ódio, orgulho e amor. O coração não batia – metralhava no peito! Doía! Queria chorar, rir e observar, tudo ao mesmo tempo.
Quando o tambor descontrolado reduzia o ritmo, Hilda finalmente adormecia. Aliviava-se dos males pré-inconscientes de uma vez por todas. Entretanto, os sonhos eram de uma violência tão dura que era melhor mesmo não ter tentado dormir, como qualquer mortal faria. Pobre Hilda, que sentia na alma as dores que os sonhos lhe causavam! Acordava como quem havia entupido as veias de álcool no dia interior, com a cabeça explodindo sentimentos que o coração não agüentava só.
            E então, Hilda levantava, esticava os braços como quem quer esticar a vida e seguia para sua serenidade habitual de mentira.